terça-feira, 11 de junho de 2013

TRAINEES DA BOLA

Hoje eu vim falar de um jovem promissor chamado Fernando. Estudioso, sempre se destacou nas turmas do colégio e da faculdade. Encantou-se por Marketing na faculdade Administração de Empresas. O seu ótimo desempenho frente à turma o qualificou para ser trainee, na metade da faculdade, de uma das maiores empresas de varejo do país, era o sonho de milhares de jovens estudantes, mas somente poucos conseguiam a tão sonhada vaga de trainee nessa empresa; ele conseguiu.
Após o término na faculdade ele foi promovido a gerente júnior do setor de compras agrícolas na empresa. Nesse tipo de empresa a competição interna é feroz, mas leal, faz parte do ambiente propagado pela companhia. O gerente sênior é o seu concorrente, na verdade só há uma vaga de gerente júnior e gerente sênior por setor na empresa, cada qual comanda sua equipe, mas o gerente sênior possui algumas outras atribuições administrativas; e a vaga de gerente júnior é composta de novos trainees a cada 2 (dois) anos.
É praxe da empresa, que se utiliza do cargo de gerente júnior para renovar as ideias e o gás da gerência operacional da empresa. A promoção conseguida significa um salário de 6 (seis) dígitos anuais, é a independência financeira em pouco tempo de carreira, e o Fernando é ambicioso, sabe que pode haver quadro até melhor que a promoção. Desempenhos notáveis não passam despercebidos pela concorrência internacional, propostas milionárias para mudanças de empresas na área do Marketing acontecem e carreiras nacionais se transformam em internacionais da noite para o dia.
Porém, a realidade mostra um outro aspecto, e este é um tanto desolador, dos 30 (trinta) trainees, somente 10 (dez) passam a gerente júnior, 1 (um) para cada setor da empresa e desses 10 (dez) novos profissionais, é mais comum que sejam todos dispensados após o período bienal do que 3 (três) sejam promovidos a gerente sênior nesse mesmo período.
Diante do quadro, Fernando se dedica, pois são muitas metas de desempenho, porém a mais difícil é a meta subjetiva, a meta de ser o melhor; melhor que o gerente sênior que já está lá e que curiosamente para chegar lá conseguiu desbancar outro ótimo gerente antecessor a ele; talvez ele dê sorte e o gerente sênior receba uma proposta de uma empresa de fora e deixe a vaga aberta, mas contar com a sorte não foi o que fez ele chegar até lá. O trabalho é hercúleo e desafiador, mas os erros acontecem, e opior é que a cada erro a pressão aumenta, e é normal errar nessa fase, apesar de cuidar de metas parecidas que a do gerente sênior, o gerente júnior não se reporta hierarquicamente ao sênior, mas ao diretor operacional da empresa que o cobra impiedosamente resultados, porém Fernando não participa das reuniões estratégicas do grupo, as reuniões de colegiado, ficando esta participação a cargo do gerente sênior.
E terminam os dois anos sem que o Fernando consiga a vaga de gerente sênior, a dispensa daquela equipe foi alta e somente um gerente júnior dos 10 empossados no início conseguiu a vaga de gerente sênior na empresa, a surpresa maior é que o rapaz promovido nem era um dos maiores destaques da turma na época de trainee, mas sua evolução diante do desafio foi espetacular, culminando com a sua promoção e a consequente dispensa do gerente sênior daquela área.
 A decepção de Fernando pelo não êxito é grande, mas também há a expertise e conhecimento adquiridos no tempo que ficou na empresa. Agora ele tenta alçar voos em empresas menores, e pesa para um futuro decente o fato de ter passado uma bom tempo participando desta gigante do varejo.
Por mais incrível que pareça, a história dessa competição ferrenha nesta empresa, é bem mais comum a uma grande equipe de futebol, que de fato a uma empresa de varejo. A profissão do futebol, ao contrário que aparece a muitos  torcedores é uma das profissões mais difíceis de lograr êxito. Quando se analisa uma profissão normal como a de um médico, um engenheiro ou um administrador; analisa-se um jovem recém formado como trainee, e dá-se a ele paciência à falta capacidade prática de operacionalizar toda a teoria que acumulou nos anos de faculdade. Mas ao recém-chegado das categorias de base, é dado o desafio de ter que ficar com a vaga de um jogador que provavelmente já logrou êxito na profissão e fará de tudo para manter-se na vaga.
Em um clube de elite, uma geração boa efetiva, quando muito, 3 (três) jogadores dos 22 (vinte e dois) que treinam todos os dias pensando em serem astros do futebol mundial, e o pior não é esse índice ser tão cruelmente baixo, mas a insistência de anos na manutenção na equipe profissional do jovem promissor das categorias de base, pela expectativa do confirmação como um jogador de excelência, pode minar algumas gerações vindouras que não conseguem nem tentar porque o clube continua acreditando no menino que todos achavam que viraria uma coisa que não se confirmou.
Defendo que o jovem do clube é patrimônio do mesmo, mas sei que é dura a regra do jogo, em que o garoto deve chegar e se estabelecer, nesse momento a história dos clubes mostram que paciência demais com quem não mostrou nos profissionais num tempo razoável sua qualidade (lembra dos 2 anos) gera prejuízo ao clube, prejudica o time, e bem com a ascensão de novos “trainees” que esperam por sua chance, travadas na insistência da diretoria na promessa do ótimo aluno, que foi sempre o destaque da turma na sala de treinamento.


Vence o Fluminense!

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